Os chamados cátaros eram um movimento religioso-cultural, propulsor de uma nova ordem social a partir do ascetismo.
Com influências do maniqueísmo em suas etapas pauliciana e bogomila, o catarismo propunha uma dualidade criadora: Deus e Satanás.
Em resposta, a Igreja Católica considerou suas doutrinas como heréticas.
Depois de uma tentativa missionária, e em frente a sua crescente influência e extensão, a Igreja terminou por invocar o apoio da coroa da França, para conseguir sua erradicação a partir de 1209 mediante a Cruzada albigense.
No final do século XIII, o movimento, debilitado, entrou na clandestinidade, mas desde a segunda metade do século XX, o catarismo é objeto de investigações e de um esforço por integrar sua lembrança à identidade das regiões onde se encontrava seu foco central de influência: o Languedoc e a Provenza, regiões do "Midi" ou terço sul da França.
As doutrinas cátaras chegaram, provavelmente, da Europa oriental através de rotas comerciais.
Os albigenses também receberam o nome de búlgaros (Bougres) e, ao que parece, mantiveram assim mesmo relações com os bogomilos de Tracia. Ao que parece suas doutrinas tiveram grandes similitudes com as dos bogomilos e inclusive mais com as dos paulicianos, com quem estiveram ligados. No entanto, é difícil formar-se uma ideia exata das doutrinas cátaras, já que existem poucos de seus textos.
Os escassos textos cátaros que ainda existem (Rituel cathare de Lyon e Nouveau Testament em provençal) contêm escassa informação a respeito de suas crenças e práticas morais.
Os cátaros caracterizavam-se por uma teología dual, baseada na crença de que o universo estava composto por dois mundos em conflito, um espiritual criado por Deus e o outro material forjado por Satanás.
Segundo os autores católicos tradicionais, esta era uma característica distintiva do gnosticismo, certa corrente residual do neoplatonismo (Plotino foi antignóstico), principalmente o maniqueísmo e depois a teología dos bogomilos.
Provavelmente, esta ideia também tinha sido influída por outras antigas linhas de pensamento gnósticas. De acordo com os cátaros, o mundo tinha sido criado por uma deidade diabólica conhecida pelos gnósticos como o Demiurgo. Os cátaros identificaram ao Demiurgo com o ser ao que os cristãos denominavam Satanás. No entanto, os gnósticos do século I não tinham feito esta identificação, provavelmente porque o conceito do diabo não era popular naquela época, enquanto se foi fazendo mais e mais popular durante a Idade média.
Segundo o entendimento cátaro, o Reino de Deus não é deste mundo. Deus criou céus e almas. O mundo material, o mau, as guerras e à Igreja Católica. Ela com sua realidade terrena e a difusão da fé na Encarnação de Cristo, era uma ferramenta de corrupção.
Segundo os cátaros, os homens são uma realidade transitória, uma “vestidura” da simiente angélica. Afirmam que o pecado se produziu no céu e que se perpetuou na carne. A doutrina católica tradicional, em mudança, considera que aquele veio dado por causa da carne e contagia no presente ao homem interior, ao espírito, que estaria em um estado de queda como conseqüência do pecado original.
Para os católicos, a fé em Deus isenta, enquanto para os cátaros exige um conhecimento (uma gnosis) do estado anterior do espírito para purgar sua existência mundana e uma transformação pessoal a partir de dito conhecimento. Não existe neles uma submissão ao dado, à matéria, que não seria mais que um sofisma tenebroso que obstaculiza a salvação.
Comumente, a cerimônia de eliminação dos pecados, chamada consolamentum, levava-se a cabo em pessoas a ponto de morrer. Após recebê-lo, o crente era alentado para deixar de comer a fim de acelerar a morte e evitar a "contaminação" do mundo. O consolamentum era o único sacramento da fé cátara.
Não tinham nenhum rito matrimonial, senão que apresentavam uma forte oposição a este. Segundo as fontes inquisitoriais, entre os sectarios estava permitida a prática da homossexualidade (que nessa época se denominava «sodomía»).
Os cátaros compreendiam a virgindade como a abstenção de todo o que é capaz de “aterrorizar” o composto espiritual, como a imagem universal da vida, que deixa realizar o divino potencial.
Ensinavam que Deus obsequia os meios necessários, em primeiro lugar o mistério do consolamentum (consolo) ou o batismo espiritual - o sacramento da obtenção do Espírito Santo – que define e consagra a vida futura da pessoa.
Os cátaros tinham também outras crenças que eram contrárias à doutrina católica. Em suas polêmicas diziam (parafraseando) que Jesus tinha sido um aparecimento que mostrou o caminho a Deus. Achavam que não era possível que um Deus bom (de natureza espiritual) se tivesse reencarnado em forma material, já que todos os objetos materiais estavam contaminados pelo pecado. Esta crença específica denominava-se docetismo. Mais ainda, achavam que o deus Yahvé do Antigo Testamento era em verdade o diabo, já que tinha criado o mundo e devido também a suas qualidades («zeloso», «vingativo», «de sangue») e a suas atividades como «Deus da Guerra». Negando assim toda veracidade do antigo testamento.
Uma das ideias que resultaram mais heréticas na Europa feudal foi a crença de que os juramentos eram um pecado, já que uniam às pessoas com o mundo material. Denominar aos juramentos pecado era muito perigoso em uma sociedade na que o analfabetismo era norma comum e quase todas as transações comerciais e compromissos de fidelidade se baseavam em juramentos. Daí que fossem considerados um perigo para o estado.
Ao chegar ao século XIII, a fé cátara já entrou firmemente na vida occitana. Os castelos situados nas montanhas sobre o mar fizeram-se a expressão física das alturas espirituais, nas quais habitavam os cátaros.
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